Iniciamos este percurso no conjunto patrimonial único no país, o qual lhe chamam Largo dos Monumentos, aqui desfrutamos uma variedade de obras de arte que, só por si, poderiam constituir um verdadeiro museu. Aguiar da Beira tem aqui o seu mais belo e autêntico museu. Uma casa singela ou um solar de magistrados, uma típica casa beirã ou as ruínas de uma outra, um curioso portal ou uma cornija, uma ombreira e uma calçada, o que resta de um mosteiro, um degrau ou uma escadaria, uma coluna ou um arco, as armas de Portugal ou uma indecifrável inscrição...tudo isto e, mais que isso, ainda um pelourinho, uma Fonte Ameada e uma Torre.
A torre quatrocentista sobressai pela sua altivez desafiando inimigos, agora invisíveis, com suas gárgulas de canhão apontadas aos quatros ventos. Sobre a sua construção levantam-se diferentes vozes, permitindo-nos que, cada um de nós, fantasie a seu belo prazer sobre as suas origens e fins. Juntemos nesse sonho a curiosa Fonte Ameada, que o pincel de Grão Vasco terá incluído na sua mais célebre tela. Arrisquemos decifrar a enigmática inscrição numa das paredes laterais, sem esquecermos as armas de Portugal no lado oposto. O Pelourinho poderá ser o "parente pobre" desta trilogia única, ex-libris de Aguiar da Beira e seu termo, mas enriquece de sobremaneira este quadro nobre e fidalgo, talhado a martelo e cinzel por povo de trabalho. Muitas telas, muitas máquinas fotográficas, outras tantas prosas retrataram estes lugares, no entanto a sua beleza e grandiosidade apenas se podem sentir, entrelaçadas com a vida das gentes, que aqui construíram a terra e sua história. Será sempre pequeno o quadro, tacanha a fotografia, insuficiente o texto, para nos mostrar o quanto de belo tem tão singular local.
A Praça, com seus três monumentos nacionais, é de sempre e sempre lá ficaremos , mesmo depois de retirados, se bem acharmos que não perdemos o nosso tempo, pois, aí nos encontrámos com ele. Tem Aguiar muito mais para dar ao visitante e, por isso, nos vamos pela esquerda, por passadeira estendida, em direção ao Castelo. Achamos logo ali a Igreja da Misericórdia e, ao seu lado, o que resta de uma outra mais antiga. Vestígios de antigo convento de monjas Beneditinas, é uma hipótese que se levanta. Da que ainda temos podemos constatar tratar-se de um edifício do séc. XVII, com interior de características barrocas, uma fachada com escudo de armas em alto relevo e um nicho com escultura, em pedra de Ançã, de Nossa Senhora da Graça, atribuída ao famoso João de Ruão, mestre escultor que viveu em Coimbra.
Se continuarmos a subida e com ela desviarmos o olhar para nascente poderemos descobrir em baixo o solar brasonado no Fundo de Vila, com exuberante pedra de armas e sóbria fachada em granito e, por detrás dele, o alongar dos campos verdejantes de um vale produtivo bem preservado pelos aguiarenses, de outras eras, para o sustento destas gentes. Perdem-se mais as vistas na lonjuras do horizonte quando subimos e, quando nos guindarmos ao alto do arruinado castelo, dominaremos, para além do vasto território do concelho, outras terras de concelhos vizinhos e mesmo a sede do distrito, se claro e limpo for o dia.
Da encosta da Lapa à serra do Pisco ou Almançor que, lá adiante, nos esconde as terras do Sol nascente, se estende o concelho de Aguiar da Beira. Sobre estas fragas, onde agora tomamos assento, se alicerçou, noutras, tomadas de aroma romano e árabe, floresceu, para se tornar luso e erguer orgulhosamente os seus escudos medievais, até ser bafejado pelos ventos da modernidade, que o fazem ser digno entre os mais dignos. Está o castelo ao abandono, pois foram de paz os ventos que sopraram. Mas está nele, sobre a pedra dura, erguendo os seus braços aos céus, pedindo, por certo, as maiores bênção para estas terras e gentes, aquela que os aguiarenses mais veneram, Nossa Senhora da Ascenção.
De guarda, a Igreja de Nossa Senhora do Leite ou Nossa Senhora do Castelo. A Virgem amamenta o seu Menino na ingenuidade pura da própria escultura. O altar barroco é muito posterior à construção do templo que, ao longo de diversas épocas, foi sendo alterado, como é facilmente comprovado. No exterior são dignos de nota, um púlpito e uma cruz de granito trabalhado. No outro cruzeiro, não dando nas vistas, merece atento reparo. Cercado que está o castelo, achamo-nos de novo no Largo e podemos escolher qualquer das ruas que dali se vão, ou ali vêm dar, para nos irmos ao outro lado da vila onde agora se faz mais vida. A direita, a da Canga ou a do Castanheiro mostram o que resta do antigo burgo e cumprem a obrigação de nos conduzir a outro largo terreiro, famoso pela carvalha que já não tem, onde o arvoredo, o sombrio solar do Cimo de Vila, saciar a sede no reconhecido chafariz público e dali nos irmos à Matriz. O que não resta é qualquer vestígios da antiga Igreja de S. Pedro, que se pensa tenha sido, o mais primitivo templo destas terras. Voltamos então à avenida principal, que risca ao meio e do cimo ao fundo esta localidade, e tomamos contactos com as obras e edifícios públicos que recentemente, sobretudo depois da década de oitenta, foram ou estão a ser construídos na sede do concelho.
Os novos Paços do Concelho e os espaços envolventes, o Lar da 3ª Idade, o Mercado Municipal, a Escola Básica do 2º e 3º Ciclo, o Quartel dos Bombeiros, tal como os recém construídos, Quartel da GNR e Centro de Saúde, no extremo sul, testemunham um novo tempo e continuam um ciclo de desenvolvimento de que são testemunhas o Hospital da Misericórdia, a Escola Primária e os edifícios do Externato de Aguiar da Beira, onde um singelo busto perpetua a figura do ilustre Padre Fonseca. E não vamos de Aguiar sem espreitamos um valioso conjunto de sepulturas antropomórficas que nos esperam na saída pela EN330.